Como está a sua Saúde Filosófica?

O professor Luís de Miranda é português. Mas aos 3 anos foi com os seus pais para França.

Hoje vive e trabalha na Suécia.

Esteve há dias a dinamizar o 40º Seminário de Estudos sobre a Felicidade no projeto de investigação "Perspetivas sobre a Felicidade. Contributos para Portugal no World Happiness Report (ONU)".

Quando questionado a explicar o seu conceito através de uma imagem, no início teve alguma dificuldade, mas depois decidiu escolher esta (e que está no seu livro sobre o tema):

Luís de Miranda recordou a visão clássica da Filosofia como sendo um trabalho que levava à saúde, através do diálogo socrático. Referiu ainda que na época medieval, o trabalho dos filósofos foi substituído pelo trabalho dos padres. Depois, informou os presentes que, nos anos 80, alguns filósofos começaram a oferecer consultas de Filosofia: Achenbach e Marinoff.

Miranda referiu que tem havido um crescimento significativo de projetos sobre Consultoria Filosófica em todo o mundo.

Em 2018/2019, Miranda começou a dar consultas de Filosofia.

Com formação em Psicanálise, Miranda começou a analisar o trabalho dos profissionais de saúde mental, sobretudo aqueles que partem de critérios e sintomatologia predefinida. Miranda começou a desenvolver um pensamento crítico sobre a normatividade e a explorar mais a visão do mundo de cada pessoa.

Foi desse trabalho que nasceu o seu conceito de Saúde Filosófica, em distinção com os conceitos de Saúde Física e de Saúde Psicológica.

Para Miranda, a normatividade limita bastante a diversidade de formas de vida.

Outro tema interessante analisado por Miranda foi sobre os motivos que levam as pessoas a não conhecerem muito sobre o serviço de Consultas Filosóficas. E um deles é o facto de muitos consultores filosóficos não usarem um método específico. Talvez o principal responsável tenha sido Achenbach.

Miranda fez um Estudo sobre este tema em 2022 com doentes tetraplégicos. A questão era saber se existia algum fator de Saúde Filosófica a fazer a diferença.

Miranda criou um método com 6 domínios e baseado em 8 etapas: 1) Descoberta; 2) Sentido corporal; 3) Sentido do eu; 4) Sentido da pertença; 5) Sentido do possível; 6) Sentido de propósito; 7) Sentido filosófico (que inclui a visão do mundo).

Depois desta explicação, Miranda mostrou outra imagem:

E foi aqui que Miranda apresentou a sua definição de Saúde Filosófica: "É a adequação entre o que uma pessoa pensa e os seus atos."

Nas consultas de Saúde Filosófica o objetivo é identificar as contradições da pessoa.

Miranda falou sobre um caso de um cliente: Uma pessoa com 54 anos, de nacionalidade russa e que se sentia infeliz, porque sentia-se sozinho, não tinha filhos e não tinha amor. Miranda considerou que estamos perante um cliente com um discurso idealista, pois o amor é um ideal. Depois o cliente falou da sua imagem das mulheres, tendo referido que as mulheres queriam dinheiro e carros de grande marca. Miranda viu aqui uma visão cínica do cliente.

Desafio: Como resolver a contradição entre o idealismo e o cinismo?

Um tema interessante é verificar que pessoas sozinhas se sentem infelizes e com consequências na sua saúde...

Para Miranda, felicidade está ligada à concretização de projetos e por isso a sua abordagem está mais ligada ao racionalismo. Por essa razão, Miranda foi bastante crítico às abordagens emocionais da felicidade. Enquanto prática, a felicidade está muito próxima do seu conceito de Saúde Filosófica. É aqui que eu e Miranda concordamos.

Lisboa, 11 de fevereiro de 2025.

Jorge Humberto Dias

Quem é Luís de Miranda?

"Luís de Miranda, PhD, é investigador em universidades escandinavas desde 2018, sendo atualmente Senior Research Fellow no Departamento de Filosofia da Universidade de Turku, no Turku Institute for Advanced Studies, e afiliado ao Center for Wellbeing, Welfare and Happiness, bem como à House of Innovation da Stockholm School of Economics. É também practitioner e conselheiro filosófico. Doutor em Filosofia pela Universidade de Edimburgo e formado pela HEC-Paris School of Economics, é autor internacional de não-ficção e ficção. É conhecido pela sua teoria e prática da saúde filosófica e da crealéctica. Algumas das suas obras, como uma introdução à Inteligência Artificial e à Robótica ou a novela Who Killed the Poet?, foram traduzidas para uma dúzia de idiomas. O seu ensaio Being and Neonness foi publicado pelo MIT Press, e a monografia Ensemblance pela Edinburgh University Press. Em 2024, publicou dois livros sobre Saúde Filosófica com a Bloomsbury Academic.

Em 2018, Luis de Miranda lançou The Philosophical Parlour, através do qual oferece ocasionalmente diálogos filosóficos e aconselhamento inspirado na sua teoria crealéctica, uma filosofia prática do possível, e mais recentemente na sua abordagem relacionada, SMILE_PH (Sense-Making Interviews Looking at Elements of Philosophical Health). Em 2019, fundou a rede Philosophical Health International. Também formado como psicanalista lacaniano, é membro certificado da American Philosophical Practitioners Association (APPA). Além disso, colabora com empresas internacionais, como a Vattenfall e a Teaminside, oferecendo sessões de saúde filosófica e ajudando na transição para além da sustentabilidade, rumo a modelos crealécticos de construção de sentido.

A saúde filosófica será, no século XXI, o que a saúde física e psicológica foram no século XX. No início do século, é um luxo para os pouco afortunados. No final do século, será uma necessidade para todos.

— Luís de Miranda, palestra na Sede da UNESCO, Paris, 29 de outubro de 2019."