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  • Foto do escritorJorge Humberto Dias

Onde fica a Felicidade nas escolas face à pandemia?

Atualizado: 7 de abr. de 2021

Pessoas felizes são, geralmente, mental e fisicamente mais saudáveis, melhor sucedidas, mais criativas ou sociáveis.” (Jorge Humberto Dias*)



Fotografia: Ricardo Almeida


A 17 março, por ordem do Governo português, as escolas enfrentaram um novo cenário jamais pensado. Foram tomadas diversas medidas face ao contexto de pandemia, no sentido de tentar prevenir o risco de contágio, num período de incerteza sobre a CoVid-19. Deste modo, as escolas foram encerradas e os estudantes tiveram de ir para casa, começando uma verdadeira aventura, não só para os alunos, mas também para professores, assistentes operacionais e encarregados de educação, dando início a uma nova era no mundo do ensino. Em pouco tempo, todos tivemos de nos adaptar a uma nova realidade, foi a redescoberta da velhinha telescola e uma reinvenção do ensino à distância…

As mudanças drásticas e repentinas impuseram-se de tal forma, que nem houve tempo para questionar e verificar se seriam ou não as mais adequadas. Crianças e encarregados de educação fecharam-se em casa, confinados a um ecrã que tinha de dar para muitos, às mesmas horas, num espaço por vezes limitado e condicionado.

O futuro de todos nós está nas mãos dos estudantes de hoje, qualquer que seja a respetiva origem ou estatuto económico e social das suas famílias. Cabe a cada um de nós não deixar que o sistema de ensino se limite apenas a veicular conhecimentos, independentemente das assimetrias que existem a vários níveis, cabe a cada um de nós não permitir que o fator mais determinante de sucesso continue a ser o estatuto económico e social dos encarregados de educação.

Com mais ou menos dificuldades e para satisfação de muitos, o ano letivo terminou, acabando assim o verdadeiro sufoco em que muitos se encontravam, tanto para alunos, como para encarregados de educação e professores. Na opinião da maioria, a prioridade seria o término do ano letivo. No entanto, os intervenientes de toda esta situação (alunos, professores e encarregados de educação) não foram chamados para dar opinião e simplesmente tinham de cumprir as orientações fornecidas pelo Ministério da Educação e pelos diretores escolares.

Ficou a pergunta no ar, que ninguém teve a coragem de fazer: “Onde fica a Felicidade nas escolas, face à pandemia?”

Alunos felizes têm melhor desempenho na escola e na vida. Facto demonstrado em várias conclusões, que já eram conhecidas quando a variante ‘felicidade’ era avaliada em ambiente profissional, são verificáveis quando aplicadas ao universo estudantil: alunos felizes têm melhores resultados e são mais bem-sucedidos, como concluem inúmeros estudos nesta área, alguns deles conduzidos pela Graduate School of Education, da Universidade de Harvard, onde se inclui uma interessante investigação levada a cabo no Eton College, uma das mais prestigiadas instituições de ensino britânicas. Por seu turno, alunos mais bem-sucedidos são mais felizes e denotam maior resiliência. Está na hora de repensar as prioridades. Um dos objetivos do sistema de ensino deve ser garantir que os alunos cresçam felizes, enquanto obtêm conhecimentos em diversas áreas, tendo em vista que os homens e mulheres de amanhã exerçam uma cidadania consciente, responsável e, sobretudo, feliz.

Considerando todos estes aspetos, procurámos saber o que os alunos têm a dizer sobre a experiência do ensino à distância, tendo eles um papel determinante em todo o processo educativo. Eles constituem a maioria e contribuem para a definição de todas as práticas a adotar nas escolas, situação que não se verificou neste caso específico. Dentro das suas possibilidades, cumpriram as orientações dos seus encarregados de educação e professores que também foram surpreendidos por esta dinâmica repentina.

Neste sentido, a empresa de consultoria “It’s happening realizou um Estudo, em colaboração com encarregados de educação, junto de 70 alunos (54.3% do sexo feminino, 45.7% do sexo masculino). dos vários níveis de ensino (42% do 1º, 2º e 3º Ciclos do Ensino Básico, 38% do Ensino Secundário e 20% do Ensino Superior), sendo que 73% dos alunos estudam na escola pública e 27% em estabelecimentos de ensino privado ou abrigo de contrato pedagógico com o Ministério da Educação. O Estudo foi realizado através de um questionário online, entre os dias 07 e 25 julho de 2020, com o objetivo de verificar qual a sua perspetiva face às novas formas de aprendizagem impostas pela situação da pandemia, assim como perceber o que, para eles, corresponde a felicidade na escola.

As questões visavam relacionar a motivação dos estudantes ao relacionamento com os colegas e professores, no contexto do ensino à distância, e analisando a Felicidade na Escola.

Como evidenciaram 80% dos inquiridos, relativamente ao decorrer das aulas síncronas e à forma como estas influenciaram o seu desenvolvimento pessoal, verificou-se que os alunos sentiram autonomia e responsabilidade, para realizar as tarefas propostas.

Outro dos aspetos a ser analisado estava relacionado com as alterações que o ensino à distância provocou nos vários tipos de relacionamento estabelecidos com os alunos. Neste sentido, a maioria dos inquiridos referiu que o relacionamento familiar sofreu alterações e 70 % consideraram que tiveram uma boa relação de trabalho com os professores, especialmente com os diretores de turma.

Outra das principais alterações verifica-se na utilização do computador sem ser para fins recreativos, como reconheceram 80% dos alunos.

A par com esta análise, o estudo pretendia também identificar quais as situações que, para os alunos, seriam indicadoras de Felicidade na Escola.

Os resultados demonstraram que 62% dos alunos consideraram que, se convivessem fisicamente com os colegas, seriam muito mais felizes.

Outro dado muito importante que apurámos foi que, para 55% dos inquiridos, importa para a felicidade a relação entre aluno e professor; assim como alguns alunos também consideraram que o relacionamento com os assistentes operacionais é um aspeto fundamental e promotor da felicidade.

A existência de equipamentos seguros e em número suficiente para todos os alunos traduz-se em felicidade para 32% dos alunos inquiridos.

Estas conclusões podem ser ilustradas através do seguinte gráfico:


Fonte: Gráfico do Estudo efetuado pela empresa "It´s Happening".

De uma forma global, podemos verificar que a situação do ensino à distância alterou significativamente as práticas letivas e os relacionamentos entre todos os intervenientes no processo educativo. Se por um lado, existe uma adaptação às novas tecnologias, por outro, as pessoas continuam a necessitar de pessoas. Tal como este Estudo comprova, através da sua transversalidade, os relacionamentos humanos determinam e condicionam o sucesso e a Felicidade na Escola.

A partir dos dados recolhidos é possível constatar-se que, independentemente das condições das escolas e do material didático, o que faz os estudantes realmente felizes é a massa humana, as pessoas e não os objetos. Também ficámos sensibilizadas com a grandeza dos alunos, pois valorizam os colegas, professores e auxiliares para o seu bem-estar.

Neste sentido, torna-se imperativo apostar nos relacionamentos sociais dentro das comunidades escolares e no meio social envolvente. Será crucial fortalecer os laços existentes para que estes possam, de certa forma, garantir uma resposta ou preparar para situações como a desta pandemia que, entre outras evidências, expôs as fragilidades sociais. É preciso dotar e preparar os adultos de amanhã para uma sociedade mais humana, consciente e responsável.

Isto só se consegue promovendo a Felicidade na Escola.


Regina Ruivo (Mestranda em Gestão de Recursos Humanos e Investigadora colaboradora do Projeto "Perspetivas sobre a Felicidade. Contributos para Portugal no WHR (ONU)")


*Dias, J. (Org.) (2020). Perspetivas sobre a Felicidade. Contributos para Portugal no World Happiness Report (ONU). Vol. 2. Lisboa: Gabinete PROJECT@. pág. 35.

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