
A partir do momento em que admitimos que a educação, nomeadamente os sistemas de ensino, têm um papel central para a formação pessoal e profissional de todas as pessoas, temos também de admitir a possibilidade de eles poderem estar a falhar em algum aspeto, quando verificamos que há uma grande quantidade de pessoas frustradas, insatisfeitas e infelizes, tomando ansiolíticos e antidepressivos, a entrar em colapso e exaustão, seja qual for a faixa etária. Como se pode verificar no Relatório do Conselho Nacional de Saúde de 2019, “Saúde mental em Portugal: um desafio para a próxima década”.
Portanto, temos de pensar a relação que existe, que poderá existir, entre a felicidade e infelicidade das pessoas, e a realidade pedagógica dos sistemas de ensino. Claro que a infelicidade das pessoas é também (e principalmente) um problema Individual, mas não só.
Quase sempre que reflito acerca da infelicidade humana, lembro-me de uma das quatro nobres verdades associadas à filosofia budista, “a causa do sofrimento é a ignorância”. Ora, admitindo a ideia, o “axioma”, de que, a causa do sofrimento é a ignorância, seja ela qual for, a questão que se deverá seguir é a seguinte: se uma sociedade tiver um índice de infelicidade muito elevado, o que é que os seus sistemas de ensino poderão estar a ignorar, e nesse seguimento, as pessoas, para que tal aconteça? Ora, qual será a ignorância que poderá não estar a ser resolvida, qual será a lacuna que poderá não estar a ser colmatada, para que exista tanta infelicidade generalizada?
A infelicidade é um problema transversal a muitas outras áreas. Mas sem dúvida que a educação tem um papel central. Ou a falta dela. Pois naquilo que se ignora, não se “educa”. Aristóteles chegou a afirmar: “(…) nenhum aspeto da felicidade pode ser deixado incompleto.” Acredito que na educação, também não se deve deixar incompleto nenhum aspeto da felicidade. Para uma sociedade felicitária, precisamos de uma pedagogia felicitária.
Filipe Calhau
(Licenciado em Filosofia pela Universidade de Coimbra e Investigador colaborador do Projeto "Perspetivas sobre a Felicidade. Contributos para Portugal no WHR (ONU)")
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